terça-feira, 9 de setembro de 2008

Enduro da Independência - Por Dalton Palhares

Neste final de semana recebi um email especial! Pude me sentir realizado pela realização de meu irmão. Apesar da gente não andar se encontrando muito e dividindo nossos sonhos, meio que à distância tenho acompanhado a empenhada construção de seu projeto sob duas rodas, e, a julgar pelo empenho, dedicação e perseverança com que ele sempre se dispos a enfrentar seus desafios, certamente o resultado viria rápido. Se nesse ponto não houve surpresas, por outro lado fui surpreendido pelas suas palavras. Ele que nunca foi muito de expressar sentimentos, deixou à mostra as batidas mais fortes de seu coração: foi doce quando deveria ser, sensível quando o momento o envolveu e aventureiro não só lá mas finalmente também na sua forma de expressar... Não é atoa que sinto orgulho dele!


Abaixo, na íntegra, o email que descreveu seu primeiro Enduro da Independência. Vale a pena conferir, não é só babação de parente não, são curiosidades acerca do que a realidade de quatro dias de trilhas:


"Chegamos ontem do Independência, aliás, chegou o que restou de mim e de minha moto. Para organizar o relato vou dividi-lo por temas.

ORGANIZAÇÃO - Achei boa a organização. Sempre tinha alguém por perto para sanar alguma dúvida. Não sei se os resultados demoraram a sair no dia, mas a maioria dos pilotos procuravam o resultado no dia seguinte e lá estava ele. Não vi muitos erros nas planilhas, e quando vi não eram erros grosseiros. Os grosseiros, como um erro no segundo dia, levou ao cancelamento do PC. Durante toda a trilha vc via médicos rodando a prova e veículos 4x4 de apoio médico em pontos estratégicos. Conversando com um conhecido que fez a prova como médico fui informado que não houve grandes problemas. Apenas alguns dedos quebrados, pés torcidos e ombros deslocados. Quanto aos cuidados médicos, a organização tá melhor que os pilotos. No primeiro dia passamos por um cara caído em um barranco após um grande degrau de uns 3 metros de altura. Como ele já estava com gente ao lado, não paramos. O que fiz foi olhar a referência na planilha e seguir na prova. Alguns poucos km à frente havia um neutro e nele estava uma pick-up 4x4 de apoio médico. Fui até lá pra verificar se os caras já tinham sido informados do ocorrido. E pra minha surpresa eles ainda não sabiam de nada. Relatei o ocorrido, falei da referência na planilha, e lá foram eles. Fiquei impressionado como um bando de piloto passa ao lado do cara, para 5 km depois ao lado do apoio médico e não tem a consideração de informar o ocorrido aos médicos da prova. Mais tarde, fui informado que foi apenas um ombro deslocado mas que não conseguiram coloca-lo no lugar. Tiveram de encaminhar o piloto para o hospital e apagá-lo para voltar o ombro. O processo foi um pouco demorado pois tiveram dificuldade de resgata-lo de onde estava. O piloto era um médico que faz trilha a muitos anos e foi convidado por seu filho a realizar o sonho de fazer o independência. Mas faz parte da brincadeira e sabemos os riscos que corremos.

TEMPO - Foram 4 dias de calor e sol intenso. Nem sombra de chuva. Porém muita poeira. Mas muita poeria mesmo. Era difícil de ver alguma coisa na trilha, principalmente quando se está na categoria de duplas e os pilotos ficam mais compactados.


LOGÍSTICA - Super cansativa. Pra falar a verdade enche o saco. Todo dia vc chega em um hotel tira a traquitana toda e no dia seguinte tem de por tudo no carro novamente. Quando acaba o enduro, em vez de descansar vc tem de lavar a moto, filtro, arrumar algo que estragou, colocar planilha encarretar, desencarretar, amarra, solta, prende, aperta, leva, trás, sobe, desce, etc.. Um saco. Queria ter grana pra fazer igual a uns gaúchos que estavam na prova. Acabava o enduro, entregava a moto pros apoios, tirava o equipamento e sentava em cadeiras de praia ao lado do big ônibus de apoio e descansavam. Já a ralé aqui, ia dormir às 23:30hs e acordava 5:30 ou 6hs da matina, depedendo do dia. Muito cansativo.


TRIHAS/DESEMPENHO - Para mim foram 4 dias bens diferentes.
-PRIMEIRO DIA. No início muita trilha por pastos e matas. Nada muito travado. Trilhas boas e gostosas de andar. Navegação tranquila e sem grandes dificuldades. No meio do dia entramos na fase dos estradões mesclados com trilhas e estradas velhas de fazenda. Meio chato, mas sabíamos que passaríamos por isto, até porque percorrer 200 km por dia só de trilha não seria possível. Neste dia, o pneu dianteiro do Leonan furou e nosso ritmo diminuiu um pouquinho. Já próximo do final do dia as dificuldades apareceram na figura de atoleiros, coisa que não temos aqui na nossa região. Foram uns 4 ou 5, se não me engano. Mas apenas 2 eram mais chatos. Demos até sorte e não perdemos muito tempo com eles. No final do dia estávamos de lama dos pés à cabeça. O engraçado era conversar com quem passou cedo pelos atoleiros. "Atoleiro? Onde?". Na nossa frente já havia passado 350 motos pelo local, então posso afirmar com certeza que quando passamos eram atoleiros sim!!. Achamos que o nosso desempenho havia sido bom, mas quando vimos o resultado ficamos até desanimados. Estávamos em 11 lugar. Achamos que ficaríamos entre 7 e 9. Foi aí que ratificamos o pensamento de que havíamos sido prematuramente promovidos a Dupla Graduados pelo TCMG. Se estivéssemos na categoria Dupla Estreante teríamos ficado em 4 lugar.
- SEGUNDO DIA. Como prometido, o dia mais difícil do Enduro. Saindo de Lambari após alguma trilhas e estradas, as pedras já começaram. Eram pedra pra dá com pau. E era só o começo. Depois de passarmos por São Tomé das Letras o bicho pegou. Vi que era trilha pra separar os homens das crianças. Me senti um bebe de 2 meses de idade...Logo no início tinha uma subida de uma escadaria que na realidade deveria se chamar paredão. E é lógico que havia duzentos fotógrafos e câmeras filmando tudo, e é lógico também que eu caí neste local. Quando sair o DVD oficial verei meu tombo com mais calma. Só que com essa brincadeira minha resistência foi embora e mais vários preciosos minutos. Depois dessa "escadaria" as pedras continuaram por muito mais tempo, minando mais ainda o resto do preparo. Nesse dia eu consegui a proeza de perder o meu óculos. Em uma mata fechada, eu coloquei ele pra trás (uso quick strap) pois estava calor e embassando. Quando fui recoloca-lo já era. Perdi e nem sei aonde. Só que a poeira era muita. Daí em diante minha prova acabou. Não conseguia andar direito. Os olhos doíam muito, além de não enxergar nada. Eu só não encarretei antes por que o neutro que paramos era sem apoio, se não eu desistiria. Esse dia foi o dia dos tombos do Leonan. Alguns feios, porém, por sorte, sem qualquer gravidade. No final do dia ainda nos perdemos. Gastamos muito tempo pra voltar pra prova. Porém não tinha mais PC no caminho Vimos que tomamos 1800 pontos em um PC mas não fazemos a menor idéia de onde foi, pois fizemos a prova toda, seguindo a planilha e não andamos mais de 30 minutos atrasados. Ao final do dia eu estava acabado, exaurido. Os braços doloridos e os dedos da mão nem fechavam direito. Tive de apelar e fazer algo que detesto. Tomar remédio. Entrei no ante inflamatório. Nesse dia ficamos em 13 lugar, mas se estivéssemos na Dupla Estreante não faria diferença, ficaríamos em nono.
- TERCEIRO DIA. O que menos gostei. Poucas trilhas e muitas estradas e muita poeira. Esse foi o meu dia de tombos. Levei um dos piores tombos de todos os tempo. Só não machuquei por milagre. Vinha acelerando ao lado de um trilho de trem, cheio de pedras soltas e atrás de outra dupla. O poeirão tava comendo solto, quando de repente surgiu do nada uma pedra enorme de uns 50 cm de altura. Bati de frente nela e voei por cima da moto. Cai de de cara no chão e saí rodando por cima das pedras. Meu capacete ficou todo ralado e sumiu a biqueira do capacete. Arrebentou meu relógio, arranhei o braço e ombro, rasgou minha calça, amassou a roda dianteira, empenou o guia da corrente e quebrou a pedaleira. Fiquei uns 30 segundos sentado no chão conferindo se não havia machucado. Depois mais 30 segundos cuspindo a terra que entrou em minha boca e no nariz. Mais outros 30s pra tira as pedras que entraram dentro do óculos. Até me recuperar nosso tempo já era. De novo. Ainda neste dia, soltou a corrente da moto do Leonan. Mas foi um dia fácil e sem grandes problemas. Sabíamos que todos perderiam poucos pontos. Perdemos 2007 e ficamos em 14 lugar. Dia pra se esquecer, seja pelas trilhas (ou falta delas) seja pelos meus tombos.

- QUARTO DIA. Como esperado, mais um dia de pedras e muitas trilhas. Saímos de Mariana e já de início caímos nas trilhas. E eram só pedras e cavas. Como estava com sorte, logo no início do dia, fruto das porradas que minha moto havia tomado anteriormente, soltou a corrente duas vezes, obviamente em locais estratégicos (de difícil acesso) e que me tiraram da prova logo de início. Aí virou só passeio. Não tem como tirar 25 minutos de atraso. Em alguns momentos, dado aos neutros, o atraso chegou até a ser de "apenas" 16 minutos. Mas eu não queria acelerar muito e me arriscar a me machucar por algo que já não valia mais. Ficar andando a 80 ou 90 km por hora em estradas de terra não é a minha praia. Depois do neutro de itabirito fizemos a trilha dos escravas e do cristo (eu acho...) e depois a topo do mundo. Foi um dia curto mas com muitas pedras. Menos pesado que o segundo, mas como o cansaço vai acumulando, situações fáceis vão ficando complicadas. Na topo do mundo eu ainda estava sem freio da frente, o que me fez fazer a trilha bem devagar. Ao final da topo do mundo todo mundo era avisado que o enduro acabou e que o resto seria só deslocamento. Só que era muito chão até Betim. Espero que o TCMG tenha ganho muito dinheiro para levar a chegada do enduro até Betim, pois foi um saco ir até lá pra finalizar o trajeto.


Como não era a minha semana de sorte (ou até foi, já que não me machuquei no tombo que levei), consegui a proeza de jogar minha moto de cima da carretinha do Leonan em cima de um Fiat Idea estacionado ao lado de meu carro. Quebrou o vidro, arranhou a porta e o pára-lama. O carro era de um PC. Acho que foi daquele que não me marcou no segundo dia....hehehe. Segunda feira vamos conversar pra ver quanto foi o prejuízo.

CUSTOS Não fiz as contas de quanto gastei, mas paguei R$ 500 de inscrição, R$ 300 de hotel, mais gasolina de carro e moto. Gastamos ainda com jantar, sempre barato e alguma coisa de manutenção. Não gastei mais que R$ 1.500,00 no total, mas posso garantir que valeu cada centavo. Subir no palco pra receber um medalha, até que bonitinha, mas que simboliza a realização de um sonho...não tem preço. Ver a minha esposa e minhas pequeninas me esperando sorridentes e felizes foi ótimo. É uma experiência impar, inesquecível e que se a minha mulher deixar, "de novo", quero repetir.

Seguem algumas fotos que achei na NET..."




2 comentários:

Anônimo disse...

Haja coração e arrepios! Sinto-me remetida à infância deste destemido e determinado menino, vigoroso a quem, ferido ou não, por precaução, mandava administrar vacinas anti-tetânicas todo ano!! Sempre assim se postou quando tinha um objetivo, fosse ele qual fosse. Rezava para que não se empenhasse contra si mesmo! Da mesma forma, surpreendo-me ultimamente com sua escrita, jornalística e leve, delicada e sensível que, com certeza, as mulheres da vida dele amenizaram. Por outro lado, a sensibilidade e a descarada declaração de amor fraterno do blogueiro, com seu abraço soft, macio, e sua homenagem orgulhosa também não me surpreendem, querido e gostoso contato do Rodrigo!!! Bj Angela

a disse...

Nossa, fantástica essa aventura. Confesso que não passaria do primeiro dia, aliás, nem sei se aceitaria um convite de participação, por menor que fosse. Mas a essencia dos humanos está em sonhar e na realização dos sonhos seja qual for seu grau de dificuldade. Ele sabia, desde o início,os obstáculos que enfrentaria, mas obviamente, todos eram bem menores que o desejo de realização da prova até o final, do recebimento da medalha "bonitinha", da sua família que orgulhosamente o aguardaria e desse irmão, que em seu blog posta sobre finanças, economia, além de falar delicadamente sobre a mulher, principalmente a sua, colocaria esse relato de uma conquista FANTÁSTICA, que nos deixou com uma vontade enorme de continuar, com todos os obstáculos previstos e imprevistos, a buscar constantemente a REALIZAÇÃO DE NOSSOS SONHOS!!! Grande Abraço,
Edleuza M.G. e Silva